A diaconia da Igreja decorre da
sua íntima união à missão do próprio Cristo, que disse de si mesmo: “Pois o
Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em
resgate por muitos” (Mc 10,45). Jesus definiu a sua missão como um serviço que,
no fundo, era a realização da vontade do Pai e do seu desígnio de salvação. É
assim que Ele se apresenta como Servo que deseja ser reconhecido, seguido e
imitado: “eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27); “Dei-vos o
exemplo para que vós possais agir como Eu agi em relação a vós” (Jo 13,15). A
atitude do servo supõe a obediência. Servir é obedecer e pôr a vida a serviço
da vontade e do projeto do Pai que O enviou. “É preciso que o mundo saiba que
eu amo o Pai e faço como o Pai me mandou” (Jo 14,31). Portanto, quem aceita
seguir Jesus, como seu discípulo, assume a condição de servo, com a vocação de
servir.
A diaconia na Igreja católica tem
a sua origem na diaconia de Jesus. O diaconato é sacramento da caridade aos
pobres e excluídos. Vocês, caros diáconos, “são ordenados para o serviço da
Palavra, da caridade e da liturgia, especialmente para os sacramentos do
batismo e do matrimônio; também para acompanhar a formação de novas comunidades
eclesiais, especialmente nas fronteiras geográficas e culturais, onde
ordinariamente não chega a ação evangelizadora da Igreja” (DAp 205). Isto quer
dizer que vocês, diáconos, não são ordenados para vocês mesmos, nem para se
colocar acima dos demais leigos, nem para desempenhar funções diferentes da dos
presbíteros e dos bispos, mas para a missão, além do mundo que nos rodeia, para
além das fronteiras da fé. Pelo testemunho de vida doada à missão, incorporados
a Jesus Cristo, servo e servidor, vocês, por meio do sacramento da ordem, devem
revelar a dimensão especial da diaconia do ministério ordenado, ajudando a
construir um mundo mais de acordo com o projeto de Deus.
O Concílio Vaticano II, no texto
da restauração do diaconado, lembra: “dedicados aos ofícios da caridade e da
administração, lembrem-se os diáconos do conselho do bem-aventurado Policarpo:
‘Misericordiosos e diligentes, procedam em harmonia com a verdade do Senhor,
que se fez servidor de todos’” (LG 29).
Por causa da dupla
sacramentalidade, é de particular importância para vocês, diáconos, chamados a
serem homens de comunhão e de serviço, a capacidade de inter-relações com
todos. Vocês são diáconos na família, na Igreja, na sociedade e nos locais de
convivência e de trabalho. Isto exige que vocês sejam, a exemplo de Abraão,
obedientes, acolhedores, diligentes, caridosos (Gn 22,1ss;18,1ss), afáveis,
hospitaleiros, sinceros nas palavras e no coração, prudentes e discretos,
generosos e disponíveis no serviço, capazes de se oferecer pessoalmente e de
suscitar, em todos, relações genuínas e fraternas, prontos a compreender,
perdoar e consolar.
Os elementos que mais
caracterizam a espiritualidade diaconal são a opção pelo serviço, missão e
partilha de vida, a exemplo do amor de Jesus Cristo, que não veio para ser
servido, mas para servir. Vocês, diáconos, devem, por isso, ser formados para
adquirir, cotidiana e progressivamente as atitudes, que, embora não sejam
exclusivamente do diácono, são sinais deste ministério: a simplicidade de
coração, o dom total e desinteressado de si, o amor humilde e serviço aos
irmãos, sobretudo aos mais pobres, sofredores e necessitados, e a escolha de um
estilo de vida baseada na partilha, na pobreza e na missão.
O ministério que vocês recebem
tem como missão ajudar a abrir os olhos da Igreja e da sociedade para enxergar
a realidade dos pobres, excluídos, marginalizados, desamparados. Ao mesmo tempo
suscitar ações, não apenas momentâneas e circunstanciais, mas permanentes, que
conduzam à recuperação completa do bem estar e da cidadania cristã dos
assaltados pelo capitalismo desumano. O diácono é construtor da solidariedade,
na medida em que, pelo seu ministério da caridade, anima e suscita a
solidariedade e o serviço em toda a Igreja.
Por ocasião da festa do mártir
São Lourenço, patrono dos diáconos, celebrada no dia 10 de agosto, manifestamos
nossa cordial saudação a todos vocês, diáconos permanentes do Brasil, com suas
famílias – esposas, filhos e filhas -, bem como aos candidatos das Escolas
Diaconais, às Diaconias e à Comissão Nacional dos Diáconos. Lembrando, por fim,
o que diz o Documento de Aparecida: “A V Conferência espera dos diáconos um
testemunho evangélico e impulso missionário para que sejam apóstolos em suas
famílias, em seus trabalhos, em suas comunidades e nas novas fronteiras da
missão” (DAp 208).
Esperamos que as Diretrizes para
o Diaconado Permanente da Igreja no Brasil passem a ser o manual de instrução,
a fim de que o diaconado seja implantado em todas as dioceses do Brasil.
Que Maria, serva e mãe do Belo
Amor, que guardou e meditou radicalmente a Palavra de Deus em seu coração,
sirva de modelo para o serviço que vocês exercem na Igreja e na sociedade.
“Amo a todos vocês no Cristo
Jesus” (1Cor 16,24).
Com minha bênção,
Dom Pedro Brito Guimarães,
Arcebispo de Palmas e
Presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada
Fonte: CNBB
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